quarta-feira, setembro 12, 2007

Vaidade, tudo é vaidade.

Estava descendo a ladeira de uma praça quando vi, sentado perto de um lago, um amigo que há tempos não o via. Ele é um cara muito próximo, mas de vez em quando some e reaparece do nada. Pra falar a verdade a maioria das pessoas que o conhecem acham ele estranho, mórbido e isolado. O nome dele é Elias.

Eu me aproximei e o cumprimentei. Ele me olhou meio que com um susto. Estava com os olhos caídos. Eu já estava acostumado a ver os olhos dele assim. Um dos motivos da galera o achar esquisito é o fato dele aparecer e reaparecer com um humor diferente do outro em várias situações e em momentos diferentes. Um dia, explosivo e comunicativo, e noutro disperso, chato e arrogante. Dizem que as pessoas inteligentes têm problemas de relacionamento. Se for assim acho que Elias é um gênio. Isso porque já desisti da idéia de que ele seja burro demais para tomar algumas decisões. Mas talvez esse mérito não o agrade.

Nesse dia parecia disposto a conversar e me contar tudo. Não estava sorridente, mas também não estava chateado. Ninguém gostava de puxar assunto com ele pra não incomodar, mas sempre que ele resolvia falar encontrava alguém para o escutar. Nesse dia Elias me encontrou e eu estava disposto a ouvi-lo.

Ele me contou que não se conformava em dar atenção para algo que não merecia. Disse que achava injusto o fato dele querer deixar pra lá e não conseguir. E que, definitivamente, achava injusto o fato dele fazer algo contra a sua vontade.

Eu também estranhei. Elias sempre foi um cara que não parava em lugar nenhum. Nunca foi de ficar indo atrás das pessoas. Eu diria que um dos sete pecados capitais que Elias possuía era o da vaidade.

Ele dizia que fizera papel de palhaço, mas não queria me contar muitos detalhes. Eu sentia que a vontade de fazer com que os outros o entendessem era grande, mas mesmo assim as pessoas não acreditariam. Ele já havia tentado antes e o resultado fora um desastre. Eu mesmo fiquei sabendo da onda. Antes disso ele havia feito outras coisas meio sinistras. Um papo que rolou nas festas do derradeiro final de ano e tal. Só que esse é um dos assuntos que Elias realmente não gosta de conversar a respeito. Alguns dizem até que ele tem problemas com bebidas. O pior de tudo é que ele sabe de tudo isso, motivo pelo qual as pessoas acharem que ele é muito intransigente, mas acho que ele se esforça pra ser uma pessoa melhor.

Então eu falei pra ele não se sentir assim, porque eu mesmo já presenciei algumas histórias massas feitas com a participação dele. Foram coisas que qualquer jovem da idade dele gostaria de fazer. Mas ele não dava muita bola pra isso. Parecia que a falta que o problema dele poderia proporcionar era muito grande. Então eu tentei o animar, falando que ele não deveria ficar pelos cantos e sim ir à luta. Eu sabia pra quem estava falando aquilo. Elias era um rapaz muito determinado e cheio de energia. Sempre dava um jeito de deixar todo o mundo pra cima. Só que mesmo eu falando isso ele não queria escutar. Como sempre ele parecia ter uma resposta para tudo. Eu sei que ele estava esperando que eu falasse algo que ninguém falara pra ele antes daquele momento, mas eu não consegui. Ele dizia que já havia passado dos limites da obsessão. Que se expôs demais e não cabia insistir. Que nesse processo houve amigos que choraram e gritaram juntos, mas outros riram e até mentiram. Então eu fui meio que desistindo de tentar o animar e passei a entender a história dele. Elias não perde a mania de tentar teleguiar os outros. Em certos momentos pensei que fosse proposital, mas vejo hoje que isso flui naturalmente, sem perceber ele já está falando demais, só que ele brinca demais com a mente de alguns tipos de pessoas, e isso pode ser perigoso. Ainda bem que durante a conversa percebi que, mesmo nesse estágio, ele tentava nos passar coisas positivas. Elias nunca foi uma ameaça pra mim. Possui um lugar específico pra aprender coisas a respeito de ondas positivas. Cada contato com ele é uma viagem, as vezes frenética.

Ele mesmo admite que o que sente é um castigo, tendo em vista que o pecado da vaidade o havia atraído a outro pecado, a ira. Ele disse que no dia da despedida ele viu que ela estava olhando pra ele esperando que ele correspondesse, mas a vaidade dele não permitiu. Ele achava que já era tarde demais e era melhor tratá-la como a culpada. Ele sabia que todo o mal entendido poderia ser desfeito se não fossem os jogos sujos da teleguiação. De alguma certa forma ele ainda a culpa por tudo, o pior é que ele nem sabe se ela realmente tem algo a ver com isso. Mas ainda hoje ele se envergonha de admitir que sente um nó na garganta ao lembrar de tudo o que aconteceu, não de ira, mas de tristeza. Ele só quer uma maneira de ignorar tudo isso. Portanto, ele me convenceu de que o que está passando é um castigo por causa de sua vaidade, onde a vida permitiu um sentimento mais convincente que o próprio Elias. Para o guiar para o nobre caminho da humildade e aprenda, verdadeiramente, o que é esquecer de gostar de alguém.


3 comentários:

Anônimo disse...

é..,
o ditado parece que é certo: "Recebemos o que damos", "...Lei da causa e efeito..", "...quem planta colhe..", e etc.
}:]

Mayara La-Rocque. disse...

É,nada do que Elias não saiba. Afinal, ele é um teleguiador, e assim paga seu preço, não?

Paulozab disse...

Não sei... Algumas pessoas gostam dele exatamente por isso, não é mesmo?